2023-01-03

Terapia Ocupacional

A Terapia Ocupacional em contexto habitacional e escolar

          A terapia ocupacional (TO), como área da saúde e educação na faixa etária pediátrica, foca-se na promoção da autonomia, independência e funcionalidade da criança nas diversas ocupações e contextos em que a mesma se insere na sua rotina.

          A prática clínica e terapêutica da TO surge, frequentemente, associada apenas a salas com equipamentos de grandes dimensões, vários espaços de brincadeira com bolas, arcos, bastões, baloiços, mas a verdade é que o trabalho em contexto habitacional e escolar assume-se também como uma das principais formas de atuação da TO. Este, ao ver a pessoa como um todo, entende a mesma como um elemento-chave nos vários ambientes em que esta participa e, por isso, o trabalho com a criança em ambientes naturalistas, como a casa e a escola, mostra-se extremamente pertinente também, muito útil não só para visualizar e compreender melhor a criança, como também para perceber como as suas dificuldades interferem diretamente com a sua rotina e desempenho na mesma, ou que fatores influenciarão este desempenho.

 

          No contexto habitacional, a presença do TO permite que a criança esteja num espaço não tão controlado como o ambiente clínico e terapêutico e utilizar os elementos do próprio ambiente e espaço para intervir a nível dos autocuidados (higiene pessoal e rotina associada), alimentação (desde questões de seletividade ou reatividade, alterações do foro motor para executar os movimentos, motivação e mesmo fatores associados à própria rotina ou adaptações no momento), brincar (desde o perfil sensorial e motor da criança e influência nos seus padrões de brincar ou jogo, desde a atenção e concentração, da disposição do espaço, facilitadores e barreiras, ou mesmo o seu repertório de brincar trabalhando desde o brincar sensorial ao jogo simbólico), autonomia, independência e funcionalidade na rotina (todas as tarefas, atividades e os elementos envolvidos na rotina de casa e que impedem um bom desempenho, sendo exemplos: arrumar o quarto, pôr a mesa, gerir o tempo e espaços, vestir e despir, todas as atividades que necessitam então de intervenção).

          Assim, a intervenção em casa pode ser útil para treinar a rotina de vestir e despir, a preparação do lanche e a sua ingestão, assim como dar novas funcionalidades aos seus brinquedos. Neste treino, para além de se recorrer aos objetos e espaços, é possível ter um acesso facilitado aos intervenientes do contexto, neste caso os pais ou cuidadores, e com isso incluir os mesmos na própria sessão e atividades e dotar os mesmos de ferramentas para promover uma melhoria contínua nestes padrões. De igual modo, é da competência do TO realizar adaptações ambientais, quer dos espaços, quer dos materiais e equipamentos, por forma a promover então uma melhoria também nas competências referidas.

          

          Por sua vez, em contexto escolar, o TO consegue visualizar como as dificuldades da criança podem interferir com o seu desempenho nas atividades escolares, com isso, intervir nas várias competências que condicionam a sua participação. Em contexto de sala de aula existe o foco nas competências grafomotoras, de perceção visual, perfil de processamento sensorial, atenção/concentração, disposição na sala e todos os fatores que impedirão ler, escrever ou estar atento e envolvido(a) nas aulas, podendo também promover a adaptação do próprio espaço em função da criança e da turma. Por sua vez, no recreio é possível intervir nas competências práxicas e de interação que permitem ou não interagir com os pares, competências motoras globais e finas que permitem (ou não) um bom desempenho nas brincadeiras, no perfil sensorial e nos possíveis desafios do recreio.

          Por fim, até na cantina pode ser realizado trabalho com a TO, nomeadamente ao nível dos padrões de alimentação em função das características sensoriomotoras, da execução motora de toda a rotina, do planeamento de todas as tarefas envolvidas e mesmo na própria participação social, quer com os pares, quer com os adultos. O TO tem ainda um papel fundamental junto dos intervenientes do contexto, como professores, funcionários e pares, ajudando-os a ser um fator positivo a contribuir para uma melhor participação da criança no contexto escolar, quer a nível emocional, comportamental e sensorial.

          Para além de tudo o que já fora mencionado, importa salientar que uma das grandes vantagens da avaliação e intervenção da TO em contexto é a possibilidade de perceber que componentes do mesmo necessitam, tal como referido, de adaptações para conseguir facilitar então a participação da criança. Estas adaptações podem dizer respeito a rotulagem de certos locais dos espaços com recurso a pictogramas ou imagens reais, para orientar a criança durante as atividades ou rotinas, mudar a disposição de armários e objetos para potenciar áreas de descanso ou envolvimento na rotina de sono, o mesmo em relação a espaços de brincar potenciando envolvimento, ou espaços de execução de tarefas de autonomização e independência, sendo as adaptações em função da necessidade. Em contexto escolar, como referido, alterar a posição da criança da sala para um espaço sensorialmente mais neutro, reduzir a quantidade de estímulos apresentados no espaço para ajudar a criança a redirecionar o seu foco atencional para o principal objetivo da atividade, entre outras.

          Em suma, o TO assume-se como um profissional importante na avaliação e intervenção de crianças e jovens com perturbação do neurodesenvolvimento e/ou necessidades educativas especiais. Sabia que o Terapeuta Ocupacional tinha funções tão vastas e importantes? Considera que o seu filho beneficiaria de uma avaliação por parte da TO em contexto?

Os nossos TO’s estão aqui para si!

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